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Indicação de leitura: Rainhas do Insólito

  • Foto do escritor: Keyla Fernandes
    Keyla Fernandes
  • 7 de fev.
  • 3 min de leitura

O livro Rainhas do Insólito: Contos Esquecidos resgata contos de autoras dos séculos XIX e XX que, apesar da qualidade e do brilhantismo de seu trabalho, permaneceram apagadas e esquecidas por muito tempo.


Durante anos, sustentou-se a ideia de que mulheres escrevendo literatura insólita era algo novo. E, quando ousavam desafiar o status quo de sua época, seus trabalhos eram frequentemente reduzidos ao que se chamava de "universo feminino"—um conceito fantasioso, criado por homens, que foi usado para minimizar e subestimar tudo o que as mulheres pensavam, diziam e faziam.


Disponível para kindle, e sai de graça para quem tem Kindle Unlimited.
Disponível para kindle, e sai de graça para quem tem Kindle Unlimited.

Por isso, livros como Rainhas do Insólito são tão importantes.


Esse é um projeto independente, conduzido por pesquisadores e profissionais da literatura que admiro muito. Com tradução inédita e exclusiva no Brasil, feita por Lucas Marchetti, e um prefácio incrível de Úrsula Antunes, o livro reúne contos de cinco autoras, trazendo histórias diversas e ricas, repletas de elementos sombrios, trágicos e misteriosos.


A coletânea se inicia com O Motor do Diabo (1910), da britânica Marie Corelli, um delicioso conto fantástico com descrições épicas. Nele, o diabo percorre a Terra em um carro com um motor poluente, observando os males que a humanidade infligiu ao planeta e se regozijando ao perceber que as desgraças não foram causadas por ele, mas pelo próprio ser humano.


Seda Desbotada (1918), de Marjorie Bowen —autora que atuou como enfermeira na Primeira Guerra Mundial—, aborda os horrores do patriarcado sob a perspectiva de uma jovem prometida a um homem mais velho, viúvo e rico. O conto conduz o leitor por uma narrativa tensa e misteriosa, com um desfecho que pode não ser surpreendente para muitas mulheres, mas é, sem dúvida, aterrador.


À Espreita (1933), foi escrito por Dorothy Kathleen Broster, que além de ter sido uma autora com mais de 150 publicações, também foi dignatária do Conselho da Paz Nacional Britânico. Esse conto me pegou demais pela presença do bizarro e pela forma como esse elemento é desenvolvido. Tudo acontece de maneira sutil, mas vai crescendo ao longo da narrativa, gerando um incômodo cada vez maior. Não dá pra falar muito sem entregar os elementos mais interessantes da história, mas a trama gira em torno de um escritor bem-sucedido e boêmio que um dia está desfrutando da sua vida no jardim belíssimo de sua casa e vê algo como uma manchinha preta se aproximando. Depois disso, como dizem os grandes filósofos, o bagulho fica louco.


O Cavaleiro Negro (1928), foi escrito pela romancista Alicia Ramsey, que para vocês terem uma ideia, era tão popular que vendia mais que Arthur Conan Doyle, H.G. Wells juntos. Como que uma mulher dessa é esquecida? Esse conto é lindíssimo, tem muitos elementos do gótico e uma ambientação sombria e dramática. O conto se passa durante o funeral do escudeiro do tal Cavaleiro Negro e gira em torno de um suposto tesouro e da maldição que o cerca, explorando temas como ambição e ganância.


O Baú com Braçadeira de Ferro (1868), da atriz e autora vitoriana Florence Marryat, foi a escolha perfeita para encerrar o livro com uma história trágica, sombria e impactante. Acompanhamos Blanche Damer, que visita sua prima durante o Natal. Junto a ela e seu marido, chega um misterioso baú, que Blanche não permite que ninguém toque. À medida que o mistério se desvela, nos vemos diante de uma trama intensa e dolorosa.


Desde os trabalhos de Ann Radcliffe e outras autoras como Mary Shelley e Shirley Jackson, a literatura produzida por mulheres sempre teve um impacto poderoso sobre os leitores,pois seus temas nunca deixaram de ser atuais e relevantes. Suas histórias insólitas e sombrias refletem realidades que muitas viveram—e ainda vivem.


Trecho de O Motor do Diabo, de Marie Corelli.
Trecho de O Motor do Diabo, de Marie Corelli.

Rainhas do Insólito é um projeto de extrema importância. Resgatar o trabalho de autoras talentosas, prolíficas e bem-sucedidas em seu tempo é uma forma de combater o apagamento e o silenciamento das vozes femininas na literatura. Afinal, esse silenciamento apenas contribui para a falsa ideia de que o insólito e o sombrio sempre foram domínios masculinos.


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